sumi
criarei um habitáculo de gelo
onde viverei aconchegada
protegida por uma camada
de nitrogénio líquido
nenhum ser nem objecto
me poderão tocar,
nenhum ser nem objecto
me poderão magoar.
o gelo não me será favorável
a aproximações
é mais seguro, mais fácil
do que sucessivas provações
(que dilaceram centímetros de mim
daquilo que sou
todos os dias
até ficar oca por dentro)
substituo o sangue por formaldehyde
depois de suspirar "well... it could've been nice... but... bye"
morta-viva
por opção
navegarei ao longe
com um rasto de vapor
a única confirmação da minha contínua existência...
optando viver, deslizarei no nada
optando viver, serei desconectada...
viverei assim, no frio
apenas os olhos livres, para observar
nunca mais para participar
prefiro o frio ao calor
adormece a dor
pavor da minha inteligência
dá a perceber
... aquilo que não quero
está prestes a acontecer.
mas ninguém, armazenado, gélido
se importará com os detalhes
com as cores e nuances
com as sensações
intermitência da consciência
somente para saborear
o pólo menos desejado
.
relva cresce aqui ao lado
ajudo-a a crescer, mais nada vive perto
vejo tudo a morrer
serei eu relva também - ao sabor do vento
conjugada em objecto
e nunca sujeito
a latência dos momentos
deixados por viver
são anestesiados, não pensados
no frio cruel da anulação
é a melhor razão
para poder sumir... de ser.