helenmarshmellow

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horrores (a sério)

e a escrever em Português...

é bastante mais cru.

viver numa linha contínua de pânico é algo que não sei se quero enfrentar.

a luz do sol queima algo de vital em mim e sinto-me desfalecer...

apenas resta algum (pouco) alívio ao ver que não sobram reflexos nas paredes, quando a iluminação na rua é apontada por focos dos candeeiros.

viver em tremendo esforço mental e físico não deveria ser um requisito sem aviso prévio.

a energia sobra para confeccionar um bom cappuccino ao acordar (demasiado cedo)... Só isso.

já não tenho energia para pedir ajuda. Não o posso fazer na condição de assustar ainda mais quem me quer bem.

todos à minha volta sofrem pelo meu pânico, como poderei eu dizer "sim, têm toda a razão, adeus mundo"?

mas viver assim é um retrato fiel do "preto e branco" que assola - ou continuo, aterrorizada, enrolada no meu próprio corpo até sentir que é seguro levantar-me para ir dar ao meu corpo algum sustento (na forma de iogurtes ou fruta) ou. Ou. Ou. Ou.

foda-se.

já não tenho sequer paciência para ouvir o que tenho de alterar para o meu corpo recuperar.
já não quero saber de medicação, atenção ou cuidados com o coração.
já não quero saber dos resultados que podem dizer se vou continuar assim, sempre em risco, ou não.
já não quero saber do sangue que retiram de mim para o analisarem como se eu não fosse humana mas sim uma espécie de ser biónico cujo corpo não reproduz da melhor forma o seu funcionamento.

hoje, é mau. Hoje é muito mau. Mas não posso fingir mais. Tem sido sempre mau.

porque quando o medo já é um problema, o facto de me colocarem dia-sim-dia-não mais motivos para eu "ter cuidado", o pânico permanente assenta.

constant and non-stopping flight or fight (or freeze) response.

estou no modo freeze. Nunca percebi porque falam tanto de fight or flight quando freeze é uma opção tão válida quanto as anteriores no que responde à agressão.

gostaria muito de poder deixar de ouvir como "à segunda não vais ter tanta sorte", "se continuas assim não duras muito mais tempo", "é extremamente raro, anormal até, ter estes problemas nesta idade". Ou, "és demasiado nova para... pronto, ter isto"...

mas que merda é esta?!

eu pergunto. Eu importo-me. Eu ainda tenho forças para perguntar - "Se isto voltar a acontecer, como sei que tenho de chamar o inem?! Pode ser outra coisa, nada de especial". Resposta? "Deixa estar... no teu caso eu também não estaria muito bem depois disto tudo... o melhor a fazer [atenção - o melhor aka a única coisa] é tentares tomar uns calmantes e se não passar vais logo para o hospital".

OLHA OBRIGADA!

That is so fucking reassuring I could fuck you right now! Thank you!

estar em casa em posição de defesa (braços cruzados, ombros encolhidos por receio de alguma coisa qualquer - não sei bem qual) ou noutro espaço qualquer a imaginar todos os cenários errados possíveis é algo que não desejo a outro ser humano. Nenhum. Ok, talvez um ou outro...

onde quer que esteja, com quem quer que esteja (mind you - algumas pessoas conseguem distrair-me desta bolha) o meu instinto GRITA "O tecto vai cair" - "A caldeira vai explodir" - "Esse carro vai despistar-se para cima de ti".

para mim já é um suplício movimentar-me dentro de um veículo qualquer - a velocidade parece sempre estonteante, a aderência parece, no melhor dos casos, duvidosa, e ver outro veículo próximo dá-me vontade de saltar do carro e deitar-me na estrada.

eu consigo OUVIR a explosão da caldeira, o cair do tecto, o despiste que me quebra o corpo.
eu consigo VER o que acontece, por uma fracção de segundo - o suficiente para me fazer piscar os olhos com força e encolher-me em defesa da explosão que nunca acontece (mas que já esteve em perigo de acontecer - talvez daí o meu receio).

e para lidar com isto? Simplesmente nada. Tive de parar todos e quaisquer hábitos que não pudessem fazer parte de uma vida ao estilo militar.

nada de fumar, nada de beber, nada de comer mal.
e também, mais preocupante, nada de desportos que aprecio, nada de saltar (literalmente), nada de muito movimento. Ao mesmo tempo, nada de estar muito tempo parada.
nada que me deixe ansiosa, nada que aumente o ritmo cardíaco, nada de medicação que serve para outras coisas também necessárias.
nada de ser uma pessoa normal com a idade que tenho (mas não aparento).
nada de fingir que o meu corpo não está ao limite.
nada de nada... nada nada nada...

a água salva-me. Nos momentos piores enfio-me no chuveiro e fico a sentir a água cair. Muito fria ou a ferver.

mas depois dizem-me "nada de tomar muitos banhos, o teu corpo está todo alterado, vai fazer pior".

O QUE É QUE EU POSSO FAZER!?

só sinto...

o coração a pedir ajuda, descompassado e frágil
a respiração ainda muito superficial (o medo! de respirar fundo e voltar a sentir dores no peito)
as pernas frágeis de uma cirurgia
o sangue que jorra assim que me corto em papel e parece ter havido um homicídio sangrento
o frio extremo que me faz rolar os olhos e tremer os lábios
o calor indecente que me tira a lucidez (a pouca que resta) e atira-me para um estado semi comatoso

e é assim? É assim que é suposto viver? Não há mais respostas? Possibilidades?

admito sem ferir o orgulho... o quanto desejo ter voltado atrás para escolher o caminho mais fácil... o sono pesado repentino, com um frio característico de um coração que não trabalha ao ritmo certo, mas sempre sem pânico... nunca me senti tão calma na minha vida...

foi no momento em que o meu corpo quis desistir que eu concordei com ele... adormeci debaixo de luzes e aparatos, sorri para quem me tentava ajudar a salvar, e, embora ofegante, não sentia agitação de nenhum feitio.

não sei porque estou viva neste momento.

e, de facto, não sei como viver agora.

e não - não vou pedir ajuda. Eu vi bem o pânico que se instalou enquanto eu me deliciava nos lençóis saídos de lixívia, com o cheiro característico da desinfecção...

não quero porque não há nada que ninguém possa fazer. Nem eu própria. Não quero porque não confio em ninguém.

mas quero e preciso que este pânico desapareça... desconheço outra alternativa senão fazer de tudo para que volte a acontecer

"à segunda não vais ter tanta sorte"