dois anos....
foi há dois anos que comecei a ter razões para detestar certos dias do ano.
nunca antes tinha tido motivos para comentar "foi há x tempo que...".
e agora, no espaço de um mês, fazem dois anos ou um ano de algo de mau até finais de Julho...
ainda não sei bem como lidar com isto. O que é suposto fazer senão aquilo que é natural sentir? Uma reflexão? Uma pitada de desespero? Filmes e pipocas até deixar de ser dia?
se por um lado quero fazer de conta que não é um dia diferente, começo a sentir-me estranha assim que o sinto a aproximar-se.
faz 2 anos...
"Mariana, tem calma ouve-me..."
há dois anos tornei-me severamente sensível... de choro fácil e sempre em sobressalto
também fiquei mais assertiva e não deixo nada por dizer nunca mais...
há dois anos fiz-me mais cínica
mas os gestos de carinho são muito mais apreciados
há dois anos aprendi a não dar assim tanto valor à vida - mas isso é por protecção
porque também há dois anos sinto que tenho sorte por existir
são dois anos amanhã.
mas hoje resolvo todos os assuntos para amanhã ser um dia meu - se for para berrar, berro se for para dormir, durmo and so on...
nunca imaginei que um corpo pudesse ter uma força vital tão própria, tão resistente, tão... fucking stubborn
o pior de alguém ter uma consciência intermitente é a noção de que essa pessoa pode sentir algum tipo de solidão.
a única forma que conheço para combater esse sentimento de culpa seria mudar-me para o lado de uma cama mas já aprendi a distrair-me (um pouco, o suficiente talvez).
nunca pensei nutrir tanto carinho no sentido de cuidar, nunca pensei ser tão humana e surpreendo-me por vezes.
nunca pensei ficar com vómitos quando inspiro dentro de um hospital
nunca pensei passar dois anos a reviver, em replay, tudo o que se passou de mau esquecendo tudo o que é e foi bom...
nunca pensei ficar uma pessoa tão... agressiva.
peço desculpa a amigos e pessoas próximas se já fui demasiado dura e fria - "desculpa" no sentido de me terem como alguém mais quente, não tenho nada que pedir desculpa por quem sou no meu todo.
sinto as minhas formas de sentir e pensar estranhas à minha pessoa...
mas, há dois anos, sou essa pessoa.
há dois anos filtrei muitas pessoas da minha vida e decidi o que quero e o que não quero.
talvez seja o ponto positivo (ou mais positivo) deste brutal desafio:
finco os pés e exijo tudo a que tenho direito
e a empatia afincada permite-me compreender os outros de uma forma tão... clara.
esta é a música da minha Mãe.
ela tem-na ouvido e parece gostar...
saudades.