*cadeira de escritório giratória
começou a ler as palavras de iniciais semelhantes como a mesma. Altura de pausa.
segurou os pés ao chão através da ponta dos botins e o corpo deu um balanço forte para a esquerda,
- "eu bem te disse", de olhos fechados
"... não comeces."
a cadeira continuava a girar, as palavras arrastavam em semi círculos,
- " e até odeio ser aquela pessoa que diz 'eu bem te disse'"
"já te deixavas de merdas..."
o rodopio abrandou após as cinco voltas do costume e as mãos voltaram a comandar agarrando a mesa com força.
- "tu vais gostar demais e depois fica tudo escuro..."
"finjo que não ouço para teu próprio bem!"
- "tu vais gostar demais e depois fica tu-"
"mentes! - tu adoras ser a pessoa que diz 'eu bem te disse'"
enquanto roía a unha do indicador direito anotou mentalmente a sua cor que puxava para o violeta,
- "... tudo escuro..."
ouviu um grunhido como resposta, voltou a pisar o chão com força e rodopiou novamente. De olhos abertos enquanto o viu sair porta fora, de costas - volta sim, volta não, como uma negação da fotografia anterior, ao som oleado do metal.
sorriu, satisfeita. Por dentro, morta.
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